Sobre Mim
Vivo de escrever há 20 anos, mas só em 2023 tive a ousadia de dizer: sou escritor. Foi quando lancei o romance “Dos que vão morrer, aos mortos”, publicado pela Editora Urutau e que fala de luto, família e saúde mental.
Se no dia 9 de janeiro de 2011 minha mãe não tivesse morrido de forma violenta e sem explicação, hoje meu livro não existiria – pelo menos não este livro. Se minha mãe não sofresse de depressão, a questão da saúde mental não teria sido um tema tão importante para meu primeiro romance.
Mas a realidade é uma só, e dela pode nascer ficção. Roberto Drummond deixa isso claro em um dos grandes livros da minha vida, Hilda Furacão. Ele faz isso ao longo de cada página, repletas de fatos e pessoas que aconteceram, mas também na epígrafe, com uma citação de Fiódor Dostoiévski.
“A vida é infinitamente mais rica que nossas invenções. Não existe imaginação que nos proporcione o que, às vezes, nos dá a vida mais corriqueira e comum”.
Eu só me declarei escritor em 2023, mas hoje vejo que isso foi uma bobagem. É que eu sempre gostei de contar histórias, mesmo bem antes de ter um livro publicado. E minha família – tanto paterna quanto materna – precisava mesmo de um contador de histórias.
Outros livros virão – um deles já está sendo escrito e deve ser publicado até o final de 2025. Enquanto isso não acontece, deixa eu te contar mais algumas coisas sobre mim.
Nasci em Belo Horizonte, em novembro de 1985. Estudei Comunicação Social na UFMG e me formei em 2009, com duas habilitações: Jornalismo e Rádio e TV. Todo o começo da minha carreira foi com televisão. Primeiro, na TV UFMG, onde fui produtor e repórter. Depois, na TV Globo, onde entrei como estagiário e permaneci por quatro anos como Coordenador de Telejornais, uma função cheia de adrenalina e também um tanto mecânica, por mais contraditório que isso possa parecer.
Larguei a Globo quando minha mãe morreu. Ou melhor: porque minha mãe morreu. Eu precisava fugir, e o intercâmbio na Índia acabou sendo a melhor opção. Dessa experiência nasceu o 360meridianos, que no começo era apenas um hobbie.
Ao voltar ao Brasil, em 2012, trabalhei novamente na Globo, em Belo Horizonte. Não me adaptei. Me mudei para São Paulo, onde vivi por um ano. Lá, trabalhei na Editora Abril e no G1, mas a adaptação seguiu complicada. Foi nessa época que o 360meridianos deixou de ser só um blog e virou empresa, com CNPJ, meta de faturamento e até uma pequena equipe.
A pandemia mudou tudo novamente. Com o turismo impossível, perdi minha renda e minha profissão. Foi nessa época que surgiram os projetos BH a pé e Onde Comer e Beber. Também foi nesse período que ressurgiu um sonho antigo – e que eu já considerava perdido. Resolvi escrever.
Participei de concursos literários. Fui um dos vencedores de um deles, organizado pelo Clube dos Autores: as Crônicas da Quarentena. Você pode ler este texto aqui. Também fui selecionado para integrar as coletâneas Micros-Uai e Micros-Beagá, da Editora Pangeia.
O 360meridianos também aproveitou a impossibilidade das viagens para mergulhar na literatura. Lançamos o livro Encontros, com algumas de nossas melhores crônicas, e editamos 18 livros raros de literatura de viagem, no projeto Grandes Viajantes. A lista inclui obras de Machado de Assis, Júlia Lopes de Almeida, Nísia Floresta e Mário de Andrade. Alguns desses livros estavam sem edição há 100 anos.
“Dos que vão morrer, aos mortos” também nasceu nessa época. Comecei a escrever em 2020. Mostrei para minha primeira leitora meses depois, com a primeira versão quase pronta. Foi assim que minha esposa ficou sabendo do projeto. Depois, encaminhei o livro para alguns amigos, fiz uma leitura crítica com a escritora Laura Cohen Rabelo e finalmente passei na seleção de originais da Urutau.
A pré-venda do livro começou no dia em que enterramos meu avô, uma das minhas pessoas no mundo. Ele já estava há dois meses no hospital, com uma doença grave. Consegui ler um capítulo do livro, ainda um original, mas já finalizado, para ele.
A história do meu livro viralizou no Twitter, atingindo quatro milhões de pessoas. Foi assim que meu romance se tornou a maior pré-venda da Urutau.
Dos que vão morrer, aos mortos é a tradução de uma frase que está no pórtico do cemitério do Bonfim, em Belo Horizonte.
“Passamos por baixo do pórtico do cemitério, que é verde e tem três cruzes, duas nas laterais, grandes e vazadas, e uma no topo, menor. Ergui os olhos em busca delas. Lá estavam: Moritvri Mortivis. A frase em latim é uma homenagem e uma sentença: dos que vão morrer, aos mortos. Inscrita na porta de entrada do Bonfim, a última saudação dos vivos é uma lembrança do destino comum de todos nós”.